O agronegócio global está se transformando rapidamente, impulsionado por mudanças geopolíticas, demandas crescentes por sustentabilidade e a necessidade de adaptação a novos padrões comerciais. Para as empresas brasileiras do setor se destacarem nesse ambiente de alta competitividade é fundamental que haja uma combinação de inovação, flexibilidade e estratégias bem articuladas.
Nesse cenário, o Centro de Aprendizagem e Cultura Imaflora (Cacuí), e a Agroicone, em parceria com um dos coordenadores do Centro de Altos Estudos e Pesquisa Geopolítica da UFRRJ, Pablo Ibañez, lançam a formação executiva Geopolítica para um Agronegócio Sustentável. O programa combina conhecimento teórico e relatos práticos, oferecendo uma possibilidade de imersão nas dinâmicas geopolíticas do mundo contemporâneo e uma oportunidade de debater, diretamente com seus negociadores, cases emblemáticos do mercado internacional.
Veja, a seguir, cinco estratégias essenciais para garantir que o agronegócio não apenas sobreviva, mas exerça protagonismo no mercado internacional.
Adaptação às Dinâmicas Geopolíticas
O cenário internacional está instável, com conflitos armados significativos e crescentes tensões entre grandes potências resultando em sanções econômicas e barreiras comerciais, que dificultam os negócios. A chamada Guerra Fria 2.0 está forçando países a se posicionarem em relação às tensões, muitas vezes levando a contingenciamentos de mercados, como é o caso das ameaças tarifárias alardeadas por Trump.
Essa instabilidade internacional exige que as empresas do agronegócio adotem uma postura flexível e estrategicamente neutra nos seus relacionamentos comerciais. Para garantir que o Brasil continue se relacionando com todos os países, é essencial desenvolver estratégias de contingência e diversificar os mercados de exportação. Isso pode ser feito acompanhando de perto as políticas internacionais e estabelecendo diálogos contínuos com o governo para uma abordagem diplomática que apoie o setor privado e não gere incertezas.
2. Expansão no Mercado Asiático
O mercado asiático tem um vasto potencial de consumo, concentrando 60% dos habitantes e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto) globais. Além disso, registrou a maior redução da pobreza dos últimos 30 anos, segundo o Banco Mundial. Nesse mercado em desenvolvimento, muitos países regionais ainda possuem restrições comerciais aos produtos agrícolas brasileiros. “Após anos de disputas na OMC, o Brasil só conseguiu abrir o mercado de frango na Indonésia em 2019”, exemplifica Ibañez.
Nesse cenário, empresas devem investir em melhorias de qualidade e certificações que atendam aos padrões desses mercados. Trabalhar em parceria com entidades governamentais, promover feiras e missões comerciais são medidas essenciais para abrir novos mercados e fortalecer a presença brasileira. Foco na construção de relacionamentos de longo prazo e adaptação às preferências culturais locais facilitará a entrada de produtos brasileiros.
3. Fortalecimento da Diplomacia Comercial
A diplomacia brasileira possui uma expertise consolidada, especialmente no setor agrícola. Os diplomatas brasileiros têm excelente formação e profundo conhecimento dos mercados e das instituições internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), que podem facilitar a abertura de novos mercados e lutar contra barreiras ou favorecimentos indevidos. Além disso, eles participam ativamente de reuniões de blocos econômicos e possuem conhecimento detalhado das especificidades de importantes parceiros comerciais, como a União Europeia e a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
A expertise da diplomacia brasileira deve ser melhor aproveitada pelo setor privado. Empresas do agronegócio precisam estabelecer canais de comunicação e cooperação com diplomatas, utilizando seus conhecimentos para penetrar em mercados difíceis e resolver barreiras comerciais. A colaboração entre setor privado e governo é fundamental para complementar esforços, recursos e expertises. Pressionar por uma maior integração da agricultura nas determinações de política externa e comercial do Brasil também é crucial. “Um dos caminhos é aumentar o papel do Mercosul na agricultura, como foro de concertação e atuação internacional dos países da região, para determinar posições comuns e exercer influência no âmbito multilateral”, afirma Ibañez.
4. Estratégias Sustentáveis e Inovação Ambiental
A questão ambiental é um ponto de destaque nos mercados globais, especialmente na Europa e, cada vez mais, na Ásia. O Brasil tem uma posição dúbia nessa área, apresentando dados favoráveis, como o uso de energia limpa, mas também taxas preocupantes de desmatamento na Amazônia e no Cerrado. A inserção de produtos agrícolas em mercados externos depende, em grande parte, da capacidade de atender às exigências ambientais e de lidar com a visão que países e compradores têm do Brasil. Também há uma corrida por posicionamento na economia verde, que pode ditar uma nova era de industrialização e serviços no mundo. Nesse caso, eficiência no uso de recursos naturais, economia circular e bioeconomia são requisitos estratégicos.
Empresas do agronegócio devem alinhar-se com os padrões internacionais de sustentabilidade e investir em inovação. “É fundamental que as empresas do agronegócio não apenas melhorem sua imagem, mas validem cientificamente métodos de produção sustentável, contribuindo para a defesa da agricultura tropical em fóruns internacionais,” afirma Patrícia Cota, diretora executiva adjunta do Imaflora, fundador do Cacuí. Além disso, é crucial pressionar por políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis e o combate ao desmatamento, garantindo que as práticas adotadas sejam reconhecidas e valorizadas internacionalmente. Na nova economia verde, há oportunidades de criar e expandir cadeias de bioprodutos, para mercados locais e internacionais, que requerem tecnologia aplicada e marketing assertivo.
5. Diversificação de Moedas e Mercados
As trocas comerciais estão cada vez mais diversificadas em termos de moedas, afastando-se da predominância do dólar. A instabilidade das moedas ocidentais, aliada ao aumento dos juros nos EUA, tem levado China e Rússia a utilizarem suas moedas locais para o comércio. Esse fenômeno é particularmente notável na Ásia e representa uma tendência clara de médio e longo prazo.
É vital que as empresas do agronegócio desenvolvam competências em transações multimoedas. Realizar acordos comerciais que incluam moedas locais de mercados emergentes pode diminuir a exposição à volatilidade do dólar. Além disso, investir em sistemas financeiros que suportem essa diversidade cambial e buscar orientação sobre regulamentações financeiras globais são medidas favoráveis às novas dinâmicas econômicas. A diversificação de moedas mitiga riscos financeiros, abre novas oportunidades de negócios e fortalece a resiliência das empresas em um ambiente econômico global em constante mudança.
SERVIÇO
GEOPOLÍTICA PARA UM AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL
Coordenação: Imaflora/Cacuí, Agroicone
Palestrantes: Jamil Chade, Candice Viana (Itamaraty), Gustavo Wetmann (Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Secretaria Geral da Presidência da República), Ana Goutierrez (União Europeia), Sérgio Gusmão (CEBRI), Juliana Lopes (Amaggi), Cristina Pecequino (Unesp/Unicamp/PUC-SP e CBN), Paulo Gala (FGC e Conselho da Fiesp), Ana Célia Castro (UFRJ) e Paulo Pianez (Marfrig).
Duração: 30 horas
Período: de 29/03 a 28/06
Formato: encontros quinzenais online aos sábados e uma sessão híbrida (presencial/online) em 26/04
Pré-requisito: ensino superior completo em áreas afins
Investimento: R$ 5 mil, parceláveis em dez vezes. Possibilidade de bolsas parciais ou integrais, a partir de critérios econômicos e de diversidade.
Sobre o Imaflora: desde 1995, atua na promoção do uso sustentável e inclusivo dos recursos naturais. Suas ações conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico, atendendo a demandas das cadeias florestais, agropecuárias, da sociobiodiversidade e da agenda climática. Realiza trabalho em campo, assistência técnica, serviços ESG e certificações, além de pesquisa e desenvolvimento de dados.
Sobre a Agroicone: é uma organização que gera conhecimento e soluções para transformar a agropecuária brasileira diante dos desafios globais do desenvolvimento sustentável. Atua em cinco áreas estratégicas: i) comércio internacional e temas globais; ii) sustentabilidade e inteligência territorial; iii) políticas públicas; iv) negócios, mercados e financiamento; e v) tecnologias em cadeias agro. A Agroicone é formada por uma equipe multidisciplinar, com vasta competência nas áreas econômica, regulatória/jurídica, territorial, socioambiental e de comunicação.