Encontro da Iniciativa de Bioeconomia do G20 terá palestra de Luisa Santiago sobre economia circular
Entre 9 e 11 de setembro, o Rio de Janeiro será palco da sessão “Avançando a Bioeconomia como Facilitadora para Consumo e Produção Sustentáveis”, parte da Iniciativa de Bioeconomia do G20 deste ano. Este encontro, concebido pelo Brasil, será o último evento presencial da iniciativa.
A Fundação Ellen MacArthur, conhecida por sua atuação na promoção da economia circular, estará representada por Luísa Santiago, diretora executiva para a América Latina. Luísa será a única representante da sociedade civil convidada pela presidência do G20 para palestrar sobre a relação entre bioeconomia e economia circular. Ela trará uma visão sobre como os princípios da economia circular podem ser aplicados à bioeconomia para promover um desenvolvimento de baixo carbono e sustentável.
Análise: Luisa Santiago, diretora executiva para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur
O Brasil acerta ao emplacar no âmbito multilateral do G20 uma discussão centrada no potencial de promoção de um desenvolvimento sustentável a partir da bioeconomia. O país tem um imenso potencial de aproveitar e desenvolver os setores da bioeconomia, dados os seus abundantes recursos naturais. É importantíssimo que esse avanço seja pautado por princípios claros que norteiem um modelo de desenvolvimento que regenera essa natureza abundante, garantindo assim a prosperidade desses setores no longo prazo. É essa a mensagem que levarei para as delegações dos estados membros: que desenvolver a bioeconomia a partir de um modelo de economia circular é potencializar ainda mais esses setores, evitando que uma mentalidade linear degrade os recursos naturais dos quais a bioeconomia depende.
Mercados exigem ação verde e empresas atrasadas podem enfrentar desafios crescentes
A crescente preocupação com a sustentabilidade está moldando o comportamento de empresas e consumidores ao redor do mundo. Atualmente, 51% das maiores empresas estão projetando produtos com menores emissões, refletindo um compromisso significativo com a redução do impacto ambiental. Além disso, 29% das pessoas escolhem opções ecológicas, independentemente do preço, demonstrando uma mudança de mentalidade em direção a um consumo mais consciente, segundo análises de reportes de indicadores de sustentabilidade de duas companhias globais, a consultoria Accenture e o CDP, plataforma independente com dados de mais de 23 mil companhias entre as maiores do mundo.
Agora, metade dos consumidores prioriza produtos e serviços sustentáveis, evidenciando uma demanda crescente por práticas empresariais responsáveis. No entanto, apenas 16% das empresas estão investindo em inovação com foco em ESG (ambiental, social e governança), indicando que ainda há um longo caminho a percorrer para que a sustentabilidade se torne uma norma universal.
Análise: Victoria Almeida, gerente de programa para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur
Os dados apontam que está cada vez mais consolidada a necessidade de as empresas se preocuparem com o seu impacto ambiental para permanecerem relevantes no mercado. Nesse contexto, a economia circular representa uma grande oportunidade, pois é uma proposta que traz um caminho claro sobre como pensar produtos e modelos de negócio para proporcionar um impacto positivo para a natureza e as pessoas desde a sua concepção.
Esse modelo, que tem como base três princípios – eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais em seu mais alto valor e regenerar a natureza – mostrou-se eficaz para economia de recursos, captação de novas fontes de receita através da inovação em produtos, serviços e modelos de negócio, enfrentamento dos grandes desafios ambientais, como as mudanças climáticas, e aumento da resiliência dos negócios. Isso acontece porque, ao aplicar os três princípios, as empresas dissociam o seu crescimento econômico do consumo de recursos finitos e conseguem ter melhores retornos com a circulação dos produtos, a valorização dos recursos e a regeneração da natureza.
Fazer a transição à economia circular é fundamental para a nossa prosperidade no longo prazo. Para chegar lá, precisaremos investir em inovação, de modo a criar e escalar novas soluções. Também será essencial contar com a ação do poder público para implementar regulamentações e políticas que facilitem a inovação e tornem as soluções circulares mais atrativas do que as convencionais e degradantes.
Descartes têxteis em aterros sanitários no Brasil alcançam 75%, demonstrando urgência da economia circular
O Brasil atingiu o marco de 75% de roupas usadas que são descartadas em aterros sanitários, revelando o desafio para o setor têxtil, segundo o que foi tratado no painel “Economia circular no setor têxtil e vestuário: caminhos para inovação e sustentabilidade”, dentro da 18ª Feira Brasileira da Indústria Têxtil (Febratex).
O custo logístico e a complexidade do processo de reciclagem impedem uma maior circularidade, com apenas 1% a 2% de produtos sendo reciclados e reincorporados à cadeia produtiva. A palestra destacou que a economia circular no setor têxtil é mais do que uma tendência; é uma necessidade urgente para assegurar a sustentabilidade a longo prazo.
Análise: Pedro Prata, oficial de políticas para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur
Os dados sobre a poluição causada pelos resíduos têxteis são alarmantes e refletem a lógica linear em que a economia da moda está baseada. Isto é, gera-se valor econômico a partir da criação de peças, consumo e descarte rápido. Para resolver o problema da poluição, precisamos mudar essa lógica e redesenhar esse sistema. As roupas e os modelos de negócio precisam ser reformulados. As peças precisam ser usadas mais vezes, projetadas para poderem ser refabricadas, e produzidas com materiais seguros, reciclados ou renováveis. Os modelos de negócio precisam incentivar o uso prolongado das peças e a sua reciclagem, o que pode ser feito por meio de aluguel, revenda, reparo, até chegar na refabricação e reciclagem.
Precisamos, também, de políticas que facilitem a transição para uma economia circular no setor da moda. Recentemente, a Fundação Ellen MacArthur lançou o relatório “Transcendendo os Limites da Política de REP para Têxteis” que mostrou como as políticas de Responsabilidade Estendida do Produtor para os têxteis, isto é, roupas, calçados e roupas de cama, podem ampliar a reciclagem dos têxteis, além de estimular melhores formas de circular as peças, como a reutilização e a revenda. Uma abordagem abrangente de economia circular é a única solução escalável ao problema global de resíduos têxteis. E a política de Responsabilidade Estendida do Produtor (REP) é uma parte necessária da solução.
Parabéns!