Wenyan Yang, da ONU, destaca trabalho sustentável de cooperativas
Representante da entidade participa da Jornada rumo à COP 29 organizada pelo Sistema OCB
Wenyan Yang é chefe da divisão de Perspectiva Social sobre o Desenvolvimento das Nações Unidas, onde atua na formulação e supervisão de políticas que promovem uma visão social do desenvolvimento. Formada em Economia, com especialização em desenvolvimento econômico e macroeconomia, ela também já foi responsável pela formulação de políticas e relatórios sobre temas de importância global para o desenvolvimento econômico e social no Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN-DESA).
Convidada para participar da Jornada cooperativa rumo à COP 29 organizada pelo Sistema OCB, Wenyan concedeu esta entrevista exclusiva um dia antes do início da programação do evento e compartilhou suas impressões sobre o modelo de negócios cooperativista e seu papel para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Entre outros pontos, ela destacou como as cooperativas oferecem uma alternativa viável ao empreendedorismo tradicional, com equilíbrio entre resultados econômicos e responsabilidade social. A importância da próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) e o impacto esperado com o Ano Internacional das Cooperativas em 2025 foram outros pontos abordados.
Para Wenyan, a preparação e a implementação de ações para o alcance um futuro sustentável e inclusivo é uma necessidade constante e deve estar sempre em pauta. Confira a entrevista!
1. Qual é a sua perspectiva sobre o modelo cooperativista?
O modelo de negócio cooperativo é uma alternativa ao empreendedorismo tradicional movido pelo lucro. Cooperativas possuem um duplo propósito, sendo eles o aspecto econômico e a responsabilidade social. Além de uma característica especial, essa é também a vantagem do modelo. E este é o motivo pelo qual as Nações Unidas colocam tanta energia e capital político na promoção do cooperativismo.
2. Como o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU promove os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e como as cooperativas se encaixam nesse trabalho?
O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais é parte do Secretariado das Nações Unidas. No geral, apoiamos os Estados-membros em seus trabalhos. Isto é, na definição de padrões globais e normas em várias esferas, incluindo desenvolvimento econômico e social, que é nossa responsabilidade principal.
Quando se olha para os ODS, vemos que a maior parte deles é voltada para o desenvolvimento socioeconômico ou interligados a ele. Nesse sentido, nosso departamento aborda três diferentes ângulos: apoio aos Estados-membros para a criação de padrões e normas globais; análises de políticas públicas; e ainda, o componente de capacidade de desenvolvimento, isto é, um grupo técnico que apoia as nações diretamente em seus esforços de desenvolvimento nacional. Um outro ponto é a promoção das ODS a partir da conscientização. Também monitoramos os Estados-membros para avaliar o progresso nesses objetivos, para mobilizar a cooperação e o apoio global.
As cooperativas, como mencionei, representam um modelo de negócios que possui como objetivo favorecer o meio ambiente e a comunidade. Então então vemos as cooperativas como uma força muito importante para o desenvolvimento em termos de alcançar vários dos ODS.
3. Estamos nos preparando para a COP 29 que será realizada em novembro do Azerbaijão. Como esse evento se relaciona com os ODS? E qual é o papel das cooperativas nesse processo?
Em relação à contribuição das cooperativas, sabemos, primeiramente, que são elas que trabalham diretamente em setores e atividades que promovem gerenciamento sustentável dos recursos naturais. Em segundo lugar, penso que até mesmo as que não trabalham diretamente nessas áreas, devido ao seu foco na comunidade e no respeito à natureza, também contribuem para o desenvolvimento sustentável nessa dimensão ambiental.
Também quero mencionar que a COP 29 está relacionada com outro setor da ONU, que é o Fórum Político de Alto Nível. Nesse ano de 2024, uma das áreas que o fórum irá revisar em detalhe é a ação climática. Nesse sentido, este é um ano muito importante para o meio ambiente. E, novamente, as cooperativas são parte desses agentes globais que fazem isso acontecer. Em termos de participação, muitos dos grandes eventos da ONU dão oportunidades e plataformas para partes interessadas da sociedade civil, inclusive cooperativas, para apresentar suas boas práticas e criar redes de contatos. Essas são, eu diria, oportunidades para o setor das cooperativas, e eu espero ver a participação ativa delas.
4. A ONU declarou 2025 como Ano Internacional das Cooperativas. Como se chegou a essa decisão, e o que isso representa?
Sim, sobre isso, tenho que dizer que estou muito orgulhosa que nosso departamento contribuiu diretamente para esse ano internacional. A cada dois anos nosso departamento escreve um relatório para a Secretaria-geral sobre o papel das cooperativas no desenvolvimento social. No último relatório que apresentamos, recomendamos que se considerasse estabelecer outro ano internacional. Já houve um em 2012. A Assembleia Geral abraçou a recomendação, através de negociações com Estados-membros lideradas pela Mongólia e também o Quênia, com apoio de vários outros países, a resolução foi proclamada.
A respeito do que esperar, penso, em primeiro lugar, na conscientização. Em segundo, gostaríamos de ver países legislando e regulando mais reformas para apoiar cooperativas. E não apenas fazer novas leis, mas também impor o que já está estabelecido. Em terceiro, também gostaríamos de ver o setor de cooperativas tomar essa oportunidade para crescer seus negócios e se tornar bem-sucedido, com uma força para o desenvolvimento econômico e social.
5. Como você disse, esta é a segunda vez que a ONU proclama um ano internacional das cooperativas. O primeiro foi em 2012. Considerando o tema em comum desses dois anos, ou seja, Cooperativas constroem um mundo melhor, o que mudou nos últimos 12 anos para o cooperativismo em geral?
Bem, primeiramente, em termos ecológicos, em 2012 ainda estávamos nos últimos passos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da agenda de 2030 se tornaram a meta global de desenvolvimento. Nesse sentido, houve uma mudança em como pensamos se compararmos os ODS aos ODMs. Há maior ênfase em uma abordagem integrada para o desenvolvimento. Em segundo lugar, os ODS enfatizam a ideia de não deixar ninguém para trás. Então, as ODS não serão alcançadas até que todos os países e todos os grupos de população desenvolvam efetivamente estes objetivos. Essa é uma diferença crucial, e importante de se manter em mente quando se pensa nesses últimos anos. É claro, o que não mudou foi o objetivo geral, e penso que as metas e princípios, os valores que promovemos não mudou, mas mudou nossa forma de fazer as coisas e a forma que pensamos como melhor fazê-las. Aprendemos com a experiência, com novas tecnologias. Eu diria que estamos em outro patamar.
Para esse ano internacional, esperamos aproveitar as novas ferramentas e plataformas como mídias sociais, que são muito maiores agora. Em termos de promover conscientização, isso é algo que podemos fazer melhor, e também penso que aprender com a experiência é uma oportunidade de construir entendimento dos anos que passaram, o que funcionou e o que poderíamos fazer melhor. Por isso, ter um segundo ano internacional é, para nós, uma grande oportunidade. Esperamos poder trabalhar com nossos parceiros de cooperativas neste ano para fazer ainda mais contribuições ao setor.
6. Sendo 2025 o Ano Internacional das Cooperativas, o que as elas podem esperar, e como devem se preparar para o futuro?
Essa é uma ótima pergunta. Primeiramente, em 2025, além de ano das cooperativas, será também o segundo ano da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Socia e da quarta Conferência da ONU sobre Financiamento ao Desenvolvimento. São vários eventos importantes e por uma boa razão. Pnso que as cooperativas podem contribuir de forma bastante ativa. Quero mencionar que antes das grandes conferências da ONU, há uma prática padronizada de realizar uma espécie de fim de semana de pré-cúpula, onde queremos que as partes interessadas venham e expressem suas preocupações e perspectivas, e também para mostrar suas boas práticas. Quero enfatizar que essas são oportunidades que as cooperativas deveriam aproveitar para aumentar sua visibilidade e ter maior impacto no cenário global.
Além disso, 2025 estará a 5 anos da data de entrega da agenda de 2030. Sabemos, do que vimos até agora, que a menos que aceleremos o progresso, as ODS não serão alcançadas até lá. Nesse sentido, vejo dois passos: o primeiro é olhar o que precisamos fazer imediatamente para acelerar o andamento dos objetivos de desenvolvimento e para cuidado do meio ambiente. Ao mesmo tempo, precisamos de uma grande queda na extrema pobreza e na fome, e reduzir desigualdades nas nossas sociedades. Em todas essas frentes, precisamos acelerar o andamento. Essa é a ação imediata para além de 2025. Algo bastante voltado à ação. O segundo ponto é olhar para além de 2030. Os ODS possuem uma data final, mas o mundo e o desenvolvimento não param em 2030.
7. Para além de 2030, o que se pretende alcançar? Qual será o objetivo, a visão para o futuro?
Penso que não é exagero dizer que 2025 é um ano muito importante tanto para o que está acontecendo na ONU quanto para o cenário global. E nós, pessoas que habitam esse planeta, precisamos pensar coletivamente para além de 2030 e o mundo que queremos, e o que devemos fazer para chegar a esse futuro. Sei que não é fácil, mas depende de nós, ninguém mais irá pensar por nós. Tudo isso para dizer que é uma oportunidade e ao mesmo tempo um desafio. Nunca é cedo demais para pensar sobre essas coisas adiante. Novamente, penso eu, e talvez também a ONU, no empreendimento das cooperativas como parceiros importantes nesse esforço. Estamos animados para trabalhar com as cooperativas não só do Brasil, mas de outros países também.
Parabéns!